09.01.2019
Querida Fernanda,
Espero que hayas tenido un buen viaje de vuelta.

Aca van las imagenes prometidas. Gracias por devolver el agua donde corresponde.

Un abrazo cariñoso
Narda
11.01.2019
Querida Narda,
gracias por enviar las imagenes y por darme la especial tarea de llevar el agua. Voy a Fortaleza en la próxima semana.
De ahí te enviaré fotos.

Bsos,
Fernanda
15.01.2019
Querida Fernanda,

!Que bueeeeno tener noticias tuyas! Estoy de vuelta en La Paz. Todo bien en mi viaje.

Gracias por devolver el agua. Justo hace un rato eche el agua de mar... por el caño. Ahora se juntará con el agua de la ciudad.
Hablemos del mar adentro uno de estos días por skype. soy nardaone

Besos!
> ¿Qué aspectos te interesan de la mediterraneidad boliviana?
> Una pregunta difícil: ¿Cómo crees que se siente haber perdido la totalidad de territorios en la costa?
> ¿Imaginas un Brasil sin mar?
> ¿Cuánto de mar hay en ti?
> ¿Buscas el mar cuando estás lejos de él?
> ¿Qué es el mar para ti?
> ¿Cómo y/dónde buscamos el mar en nosotras?
> ¿Cómo entiendes la mediterraneidad existencialmente?
> ¿Podemos crear realidad a partir de la poética de la mediterraneidad?
> Implicaciones económicas de la mediterraneidad
> ¿Sueñas seguido con el mar, con agua de mar, costa, playa, etc.?
> ¿Podrías vivir sin mar?
> ¿Cuáles son tus actividades favoritas cuando vas al mar, a la playa, al puerto?
> ¿Qué es lo que más te gusta del mar?
> ¿De qué formas se manifiesta el mar en el imaginario brasileño?
O ¿Qué es el mar, océano en el imaginario brasileño/cearense?
> ¿Las personas, hablan de la condición de mediterraneidad, en Brasil? ¿Qué piensan?
> ¿Puedes mencionar ejemplos emblemáticos de arte, poesía, música, arquitectura, etc. brasileña relacionada con el mar?
> ¿Por qué te interesa la mediterraneidad como metáfora y como realidad?
> Cuéntame algo de la gastronomía marina brasileña/cearence
> ¿Cuánto puede reinventarse el mar?
> ¿Para qué reinventarlo y cómo?
> ¿Crees que ser un país con costa tiene implicaciones en la forma de ser de sus habitantes?
> ¿Cómo sería Brasil o Fortaleza sin mar?
> ¿Has viajado por mar? ¿Qué recuerdos tienes?
> ¿Qué piensas de los barcos, de los cruceros?
> ¿Alguna vez pensaste en ser marinera, en ser pescadora?
> ¿Qué piensas de los países-isla como Inglaterra o Japón?
> Cuéntame alguna anécdota personal que tenga que ver con el mar, playa, agua de mar, etc.
> Cuéntame algún pasaje de la historia de Fortaleza, mito o leyenda, en la que el mar juegue un rol capital.
Se você abrir uma pessoa, irá achar paisagens.
Se me abrir, irá achar praias”.
AGNÈS VARDA
Eu, de Fortaleza, nasci e cresci com a maresia na pele.
Ela, boliviana, escuta falar de um mar que era seu e lhe foi tomado.
A partir de correspondências, o que está em jogo é: como inventar um mar juntas?
Trate-me por Ishmael. Há alguns anos – não importa quantos
ao certo –, tendo pouco ou nenhum dinheiro no bolso, e nada em especial que me interessasse em terra firme, pensei em navegar um pouco e visitar o mundo das águas. É o meu jeito de afastar a melancolia e regular a circulação. Sempre que começo a ficar rabugento; sempre que há um novembro úmido e chuvoso em minha alma; sempre que, sem querer me vejo parado diante de agências funerárias, ou acompanhando todos os funerais que encontro; e, em especial, quando minha tristeza é tão profunda que se faz necessário um princípio moral muito forte que me impeça de sair à rua e rigorosamente arrancar os chapéus de todas as pessoas – então percebo que é hora de ir o mais rápido possível para o mar.
MOBY DICK na pesquisa de Júlia
Como começar?
(uma tarefa difícil - mais do que imaginei. talvez por isso tenha demorado para iniciar essa correspondência)
Contornar o que ainda não tem forma.
sigo pela beira, margeando o chão úmido.
areia e sal.

Segue:
O caderno que mergulhei pela vontade de conter o mar e devolvê-lo para você. Levei-o para secar ao sol na varanda da casa da minha mãe. Ainda guarda as dobraduras do mergulhos, as pedrinhas. maresia.
A primeira carta, talvez seja aí onde tudo isso começou.
E um pendrive - nele você pode ver os dois registros: da devolução do mar; do mergulho do caderno. Coloquei também a trilha sonora de um trabalho de dança no qual que estou participando. O nome do projeto se chama AMA. Ama, em japonês, significa mulheres do mar. Existe no Japão um tradição milenar dessas mulheres que mergulham em apneia nas águas gelados do oceano Pacífico para caçar. É uma obra coreográfica em torno da força de trabalho e vida dessas mulheres mergulhadoras. Somos 8 mulheres. A trilha desenha um pouco de um certo mar no qual mergulhamos-dançamos-atravessamos em cena.
Pensei que esse pendrive pode ser útil para ir e vir. Levar e trazer o que quisermos.
A última mensagem que recebi sua antes de enviar essa carta foi sobre como essas trocas podem ser áreas ou marítimas. Você também falou de uma Bolívia mediterrânea. Nunca pensei ou visualizei esse avesso, um lugar entre terras como um lugar ilhado. Uma ilha isolada por terra de todos lados. Penso nas fronteiras, nos fluxos migratórios mais recentes.

O que nos ilha? O que nos aproxima?
Termino - e começo - por aqui.
Um beijo e até logo,
¿ Si algún día vamos a tener el mar?
O xamã fecha os olhos, faz uma prece e joga as folhas de coca sobre a mesa.
- SIm?
- No va a ser pronto. Nos va a costar mucho oro, mucha plata.
ESTOU À MATROCA*, COMUNIQUE-SE COMIGO

* ausência de rumo, entregue à correnteza, à força dos ventos
-----
02.07.2019
Conversa com Júlia
600 e poucos passo para
se chegar ao mar.
-----
04.07
Filipe ao telefone:
Fortaleza, a cidade nasceu de costas para o mar
Espigões para apaziguar o mar

“Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!”
EDUARDO GALEANO
DIÁRIO DE BORDO ~ CUADERNO DE BITÁCORA
Condições técnicas sobre a viagem, atmosféricas, força dos ventos, velocidade do barco e outros detalhes da navegação
Um mar entre La Paz e Fortaleza
Inventado pela linguagem
A linguagem como forma de construção de mundos
Um mar portunhol, português e espanhol
Mar palavra
Um mar que se dá na oralidade no encontro com pescadorxs, comunidade, poetas, músicxs
Um mar feito a muitas mãos
¿Qué aspectos te interesan de la mediterraneidad boliviana?

Pulei essa pergunta. Voltei a olhar para ela dia 05.04.2019. (fim 23/marzo/1879) Ao inserir o termo 'mediterraneidade boliviana' na pesquisa do Google, descobri que exatamente naquele dia completavam-se 140 anos do início da Guerra do Pacífico.
1941 - Pescadores Jacaré, Tatá, Manuel Preto e Jerônimo viajaram de jangada durante 61 dias, de Fortaleza até o Rio de Janeiro, levando manifestações políticas trabalhistas ao presidente Getúlio Vargas.
1942 - Orson Welles veio ao Brasil filmar It's all true (Isso é tudo verdade) e retratou a aventura desses pescadores. Jacaré presidia a colônia de pescadores da Praia de Iracema, denunciava precariedade no setor da pesca.
Fazer no próprio corpo a abertura necessária para ressoar a baleia.
JÚLIA
sol a pino. o muro branco. o portão de madeira. lá dentro, a brincadeira era atravessar de uma ponta a outra das janelas sem encostar os pés no chão. as cordas do varal aumentavam o desafio. o fim do jogo era definido pelo céu lilás, pelas camisetas e shortinhos grudados na pele. o ganhador, se pudesse dizer que havia um, era aquele que estava com as mãos mais pegajosas da mistura de poeira e sal. descobri ali, no quintal da minha avó e entre os meus dedos, o que era maresia. lembro desse veludo marinho se espalhar e vestir a cidade. lençóis faziam às vezes de capa, cobrindo sofás, televisões e rádios. dia de visita em casa era um luxo, era quando podíamos ver além dos contornos dos móveis e eletrodomésticos. esconder a casa do mar, cobrir seus objetos e aumentar a vida útil das coisas. acho que nunca entendi bem esse adiar o tempo das coisas. acho que o mar vem para dizer que as coisas vão e vem e não são mesmo feitas para durar. não é à toa que a praia que mais tem maresia em fortaleza, no ceará, é chamada praia do futuro.